segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Os três ou "porque Platão fingiu"





Os três ou “porque Platão fingiu”

Lucio Lauro Barrozo Massafferri Salles
In memoriam Lauro Salles


Entre as sombras sem cor, d'uma sala indiscreta,
Reuniram-se, os três:
O músico, o pintor e o poeta...
"Oh deus, sou o mais infeliz, desbeirado d’amor", o músico dizia...
"Pois, se há beleza na dor, minha dor não tem.
Sou forma de tristeza, d'um Noturno de Chopin...!"
"Muito mais infeliz sou eu..." Soluçava o pintor...
"Infinito mal, sem remédio, o eterno padecer sem cura,
Como posso revelar, na alegria da cor, a minha desventura?!"
O poeta reclinou-se... afastou da memória uma lembrança amada...
As lágrimas caíram...
E ele não disse nada...


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O caramujo e o deserto




 

O caramujo e o deserto

Lucio Lauro B Massafferri Salles


Dei de cara com uma estranheza, ainda novo. O primeiro a saber da bizarrice foi parceiro caramujo.
Amigo fiel, morador da ilha amada, Caramujo a tudo ouvia. Veio do mar, disseram.
Ele só se dizia do barulho das águas, mas escutava como ninguém.
Encosta ele na orelha, filho... Dizia mãe. Que as ondas batem juntinho de ti.
Pois, descobrindo que sendo bom escutador, Caramujo era imitador de ondas. Disse a ele que achava ter gosto em torcer palavras.
Notei isso, primeiro, porque falava só. Depois porque gostava de escutar de lado.
Adulto é danado para palavrear enviesado, torto, esconso. Língua oblíqua.
Havia uma professora na ilha que dizia, as grandes amizades influenciam a gente. Nas escolhas, erros, amor e profissão. Descaminhos, o que é melhor.
O amigo só falava que nem mar. Na ilha, era um canto de oceano.
Decerto que às vezes mais alto, mais baixinho, igualzinho. Conversa só, ensina a gente, porque com muita sede é que se faz miragem! Miragem é coisa trocada. Perfeita. Vista do contrário. Basta querer, como dizer que não há oásis.
A água vai tá no contrário, sim, do que dá na vista.
Pessoas são desertos, e assim é também com palavras.
Caramujo ensinou que arte de orelha constrói mundos.
Basta chegar perto, escutar.
O som é sempre úmido.
Relento do mesmo no outro.


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Poema "Coração da Areia"



Coração da Areia

Autor: Lucio Lauro B Massafferri Salles



Na franja do mar deixei pegadas n'areia.
Meu coração deseducado do nunca correu quando pé molhou.
Nova intimidade é trecho de susto. Costuma ir na boca, coração.
Toque de grão difere de mar, mesmo misturados.
Imagino o primeiro a se fazer em fôrma-pé.
Franja de ilha é casamento. Um não fica sem o outro, um minutinho sequer.
Basta cunhar água que tudo se dissolve. Se descolassem, ilha não era.
Em sendo ali, cortejo de oceano, areia é donzela.
Sempre branca. Branquinha.
Casa de branco? Casa, sim. E mar de azul.
Peixe ignora essas coisas.
Só beija borda e volta. Bobo não é.
Bala de peixe é anzol, de vez em quando pula um.
Num há pôr-de-sol mais puro que o da ilha.
As puridades compõem o espírito.
Seduz as ostras.
Danada rebelião de mariscos.


Lucio Lauro M Salles