quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O caramujo e o deserto




 

O caramujo e o deserto

Lucio Lauro B Massafferri Salles


Dei de cara com uma estranheza, ainda novo. O primeiro a saber da bizarrice foi parceiro caramujo.
Amigo fiel, morador da ilha amada, Caramujo a tudo ouvia. Veio do mar, disseram.
Ele só se dizia do barulho das águas, mas escutava como ninguém.
Encosta ele na orelha, filho... Dizia mãe. Que as ondas batem juntinho de ti.
Pois, descobrindo que sendo bom escutador, Caramujo era imitador de ondas. Disse a ele que achava ter gosto em torcer palavras.
Notei isso, primeiro, porque falava só. Depois porque gostava de escutar de lado.
Adulto é danado para palavrear enviesado, torto, esconso. Língua oblíqua.
Havia uma professora na ilha que dizia, as grandes amizades influenciam a gente. Nas escolhas, erros, amor e profissão. Descaminhos, o que é melhor.
O amigo só falava que nem mar. Na ilha, era um canto de oceano.
Decerto que às vezes mais alto, mais baixinho, igualzinho. Conversa só, ensina a gente, porque com muita sede é que se faz miragem! Miragem é coisa trocada. Perfeita. Vista do contrário. Basta querer, como dizer que não há oásis.
A água vai tá no contrário, sim, do que dá na vista.
Pessoas são desertos, e assim é também com palavras.
Caramujo ensinou que arte de orelha constrói mundos.
Basta chegar perto, escutar.
O som é sempre úmido.
Relento do mesmo no outro.


Nenhum comentário: