O caramujo e o deserto
Lucio Lauro B Massafferri Salles
Dei de cara
com uma estranheza, ainda novo. O primeiro a saber da bizarrice foi parceiro
caramujo.
Amigo fiel,
morador da ilha amada, Caramujo a tudo ouvia. Veio do mar, disseram.
Ele só se dizia
do barulho das águas, mas escutava como ninguém.
Encosta ele
na orelha, filho... Dizia mãe. Que as ondas batem juntinho de ti.
Pois, descobrindo
que sendo bom escutador, Caramujo era imitador de ondas. Disse a ele que achava
ter gosto em torcer palavras.
Notei isso,
primeiro, porque falava só. Depois porque gostava de escutar de lado.
Adulto é
danado para palavrear enviesado, torto, esconso. Língua oblíqua.
Havia uma professora
na ilha que dizia, as grandes amizades influenciam a gente. Nas escolhas,
erros, amor e profissão. Descaminhos, o que é melhor.
O amigo só
falava que nem mar. Na ilha, era um canto de oceano.
Decerto que às
vezes mais alto, mais baixinho, igualzinho. Conversa só, ensina a gente, porque
com muita sede é que se faz miragem! Miragem é coisa trocada. Perfeita. Vista do
contrário. Basta querer, como dizer que não há oásis.
A água vai tá
no contrário, sim, do que dá na vista.
Pessoas são
desertos, e assim é também com palavras.
Caramujo
ensinou que arte de orelha constrói mundos.
Basta chegar
perto, escutar.
O som é sempre
úmido.
Relento do
mesmo no outro.
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