domingo, 8 de julho de 2012

O relógio e o sol



O Relógio e o Sol [em dois tempos]


I  ir vir

Autor: Lucio Lauro B Massafferri Salles


No início era sol, e depois noite.
Os homens, curvados, eram ainda não-homens.
Notavam que tudo se movia.
Uma ora, o breu. Escuro.
Em outra, o claro, dia.
Seu único saber? Que tudo mexia. Tudo movia.
Ia pra frente, ia pra trás, fosse noite, fosse dia.
Se relampejava, chovia.
Engravidava, nascia.
Nascia. Morria.
Tudo tinha sentido, mesmo sem nenhum. E isso bastava pros homens.
Pois de porque em porque, tudo ia. Bem, mal, mas ia.
E em repetência infinita, de luz e escuridão,
surgiu com curiosidade animal, curvada.
No caso, desejo de mover o mover.
Só mesmo homem pra querer fazer fazer, desfazendo que é feito, sempre no mesmo.
Mesmice é coisa que repete sem parar.
É dia. É noite.
É dia. É noite?
Como nublava, na ocasião saber era não todo. Era nada.
De desespero veio nuvem,
que além de fazer chuva, em sol encobriu.
Não se sabia se noite.
Não se sabia se dia.



II a sombra da ora


Aos homens, restava por agá na ora.
Mesmo mudo, faz tempo.
Mais forte domina o fraco.
Mulher dominava homem, de letra muda na frente...
Só lhe restava força. Mas força não domina.
Que lhe encobria?
Dos homens orava, ora de pôr agá.
Pingos nos is do movimento!
Dominar o mesmo!
Parar a coisa!
Ou pelo menos fazer como tivesse parado.
Crença de poder, sempre foi mal de homens.
Foi primeira vez que brincaram de deus.
Como criança que pára jogo, quando move pro lado errado.
Ir, vir, passou à medida. E não por acaso, foi pela sombra que idéia de criar régua pro mover surgiu. No claro, dia, no sol, olhando o rabo em sombra de areia, desencobria. Orava-se! Da luz, se fez. Movimento se media. Pedaço de treva que anda. Sombra, disfarce, dissimulação. Cópia não; vestígio!
Cria assim, que deu nome de tempo. O filho senhor. A ele pai homem se curvou. Mas por respeito.
A medida de si, em movimento, sombra feita de sol.
Assim como de costela, se disse vir Eva.
Foi de umbigo humano que se fez o tempo.