segunda-feira, 25 de junho de 2012

De Crianças e Bichos




De Crianças e Bichos
Autor: Lucio Lauro B Massafferri Salles


Sobre pequenos que conversam com bichos. Eles não sabem do que dizem. Não se trata de saber. É amor. Nem de onde. Nem pra onde. Nem do que, é o que parece. Amor não parece. Amor é. E dos bichos, nem o que escutam. É certo que escutam. Mexem orelhas, ao menos. Os que os escutam dizem que a conversação é por si só bastante amalucada. Fala-se pra um. Que não entende do que se fala pra outro. E tome de gargalhada. Fala sem entendimento é coisa de bicho burro. De burro bicho, ou de gente doida, já dizia um antigo e solitário sábio. De um a outro, em prosa ingênua, bem farta de carinho. Não pode carecer de razão ao final. Onde há carência é porque farta algo. Do que falam então? Há um e outro, em gente, bicho, amor. Comunicam-se então? Horas a fio, de riso. Colo com direito a um coça-barrigas. Estrangeira relação. Gatos e cães, sim, são capazes de horas a fio de cavaco com pequenos. Pequenos intervalos em chamego. Pequenos seres que brincam. Pequenos amores eternos. Muito ternos. De criatura pequena, pra criatura pequena. É-ternura, não acaba nunca. A razão então, se perde bem ali, assim como Músicos de Bremen inspiram a crer que gatos são atores de alma, burros flauteiam, cães mandam, ao invés de obedecer. O artista e o chefe. Pequenos não se dizem donos. Tomam posse só quando crescem. De crianças e bichos, artífices de amor.