Perdoem-me a ousadia e a pretensão, pois não sou poeta. Mas certo dia, em boas recordações, escrevi " a Promessa Quebrada", que me pareceu, muito toscamente, ter algo de poético. Compartilho, então, agradecendo às milhares de pessoas com quem já cruzei pela vida, e que me deram, desde um "simples oi", até alguma conversa mais demorada. São todos personagens que compõe a trilha, quase inominável, que nos esforçamos, todos, por identificar com a singela alcunha de, "EU".
Em memória dos que se foram, amados, mas ficaram, em algum lugar.
Em homenagem aos que ficam e vivem, sem se preocupar em compreender em demasia, o que, na visão da raposa de Exupéry, seria um sacrilégio com o amor e a amizade.
A
PROMESSA QUEBRADA
de Lucio Lauro B
Massafferri Salles
in memoriam:
Zilda Massafferri
Era uma vez uma promessa que fiz. Quando pequeno
prometi não crescer. Prometi não morrer. Descobri cedo o segredo da eternidade.
O adeus é algo difícil de se viver. Não há como entender o porquê se vai. Nunca
mais. Se foi. Para sempre partiu. Partiu-se. É uma flecha de gelo atravessando
a alma. Para não ter que repetir o adeus, sendo eu mesmo despedida, resolvi que
não mais haveria fim, pois só quem perde algo que ama de fato é que sabe da dor
em perder, sem poder dar adeus de verdade. Jamais irei crescer. Jamais irei
morrer. Pois os pequenos jamais se dizem a-deus.
O para sempre é um mundo à parte. Em que o tudo e o nada acontecem ao mesmo
tempo. Todo mundo que tem medo do adeus tem um mundo para sempre. É impossível
que não tenha. Bom e mau. Vilão e herói. Mocinho e bandido. Não se diz a-deus
do mundo para sempre. Porém nada na vida é para sempre. Ser eterno tem seu
preço. Ser eterno é ser e não ser ao mesmo tempo no mesmo espaço. Na mesma
relação. A dor de adeus não mais sentia. E no lugar que deveria ser dela. Veio
outra. A de não ser livre. No limbo da promessa do ser e do não ser ao mesmo
tempo. Sem tempo. Ser livre é ser feliz. É poder se despedir da noite dando-lhe
a-deus para poder saudar o dia. O
sol-rir para ele. É poder vibrar com
o pouco. Fazer dança com a chuva das próprias lágrimas. Ser livre também é
poder morrer. Descobri. Pois um rio sempre se move. Quando começa e quando
termina. Em algum lugar. E não começa e nem termina. Em lugar algum. E suas
águas não param. A vida é uma doce e breve visita. Mal a gente chega é já é
hora de partir. É a arte de saber chegar. É a arte de saber sair.